O Carisma na Liderança: Uma Perspectiva Crítica

O carisma é uma característica frequentemente associada à liderança, mas será que ele é realmente essencial para um líder eficaz?

LIDERANÇA

Flávio Xavier

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Você já se questionou se o carisma é, de fato, a chave para a liderança eficaz? Com frequência, deparamos com afirmações que estabelecem o carisma como uma característica fundamental para liderar. Na minha perspectiva, esta noção pode ser considerada uma simplificação míope.

O carisma é, inegavelmente, um traço poderoso que exerce influência sobre os relacionamentos interpessoais. Aqueles que o possuem desfrutam de uma ferramenta valiosa para conectar-se e persuadir. Entretanto, é importante olhar para o carisma como uma espécie de armadilha.

Quando combinado com pessoas de princípios duvidosos, o carisma pode abrir portas para a manipulação e a desonestidade, substituindo as ações corretas que caracterizam a liderança legítima.

Na realidade, o carisma pode ser perigoso até mesmo para indivíduos bem-intencionados que, ao alcançarem uma posição de liderança, podem sentir-se tentados a agir de maneira egoísta e manipuladora, corrompendo suas intenções iniciais.

Líderes notáveis, como Nelson Mandela, Barack Obama e os papas Francisco e João Paulo II, representam estilos diversos de líderes carismáticos em escala global.

No Brasil, líderes como Luiza Helena Trajano, Abílio Diniz e Jorge Paulo Lemann são exemplos inspiradores que construíram grupos empresariais, certamente com o carisma desempenhando um papel fundamental em suas trajetórias.

Contudo, é crucial distinguir líderes autênticos de pseudo-líderes que exploram o carisma para manipular pessoas, sejam comunidades, países ou equipes de trabalho. Essas figuras não são líderes, são manipuladores, aproveitando-se da confiança das pessoas para alcançar seus próprios objetivos.

Veja a interessante reflexão de Peter Drucker sobre o carisma nesse trecho de uma entrevista dada por ele a Rich Karlgaard em novembro de 2004 para a Forbes. Está publicado no livro O Gestor Eficaz em Ação (2006), de Peter F. Drucker.

O Perigo do Carisma

Há 50 anos fui o primeiro a falar sobre liderança, mas, hoje, discute-se demais sobre o assunto, com ênfase exagerada, e dá-se Pouca importância à eficácia. A única coisa que se pode falar sobre um líder é que ele é alguém que tem seguidores.

Os líderes mais carismáticos do século XX foram Hitler, Stalin, Mao e Mussolini. Mas eram líderes às avessas!

Certamente a liderança carismática, por si, é superestimada em demasia.

Veja que um dos presidentes norte-americanos mais eficazes dos últimos 100 anos foi Harry Truman, que não tinha um pingo de carisma. Truman era tão monótono quanto um peixe morto. Ele era venerado por todos os que trabalhavam para ele por ser realmente digno de confiança.

Quando Truman dizia não, era não; quando dizia sim, era sim. E ele não dizia não para uma pessoa e sim para outra em relação ao mesmo assunto.

Outro Presidente eficaz dos últimos 100 anos foi Ronald Reagan. Seu ponto mais forte não era o carisma, como muitos costumam pensar, mas o fato de ele saber exatamente o que podia e o que não podia realizar.

Em última análise, o carisma por si só não define um líder. O que realmente importa são as ações e os princípios que guiam suas ações. A liderança eficaz se fundamenta na integridade, na capacidade de tomar decisões e na habilidade de inspirar seguidores com um propósito genuíno e orientado para o bem maior.

É a combinação equilibrada entre carisma e caráter que, verdadeiramente, pode contribuir para definir um líder.

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Este artigo foi publicado originalmente em meu perfil do LinkedIn no dia 7/11/2023

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