QUANDO O CARÁTER DENUNCIA A INCOERÊNCIA

Recentemente, assisti a uma entrevista no LinkedIn que me chamou a atenção. A pessoa entrevistada parecia dominar as práticas da liderança legítima, falando sobre como cuidar dos colaboradores, protegê-los de clientes grosseiros e preconceituosos, delegar responsabilidades, gerir processos e estratégias para o crescimento, sempre de forma muito humanizada.

Porém, algo me soou estranho, pois eu já conhecia e tinha uma impressão diferente dessa pessoa. Tenho consciência de que muitos “líderes”, famosos nas mídias sociais e na televisão, falam sobre atitudes que não se refletem na realidade de seus bastidores e nos corredores de suas empresas.

Confesso que, inicialmente, considerei escrever algo elogioso sobre os pontos abordados naquela entrevista. No entanto, ao ver inúmeros comentários na publicação, percebi indignação e desapontamento generalizados. Os comentários trouxeram diversos exemplos reais sobre a pessoa entrevistada que contradiziam tudo o que foi dito.

A Discrepância

Nestes 30 anos desenvolvendo líderes, vi muitos casos de pessoas que demonstravam ter aprendido muito bem os conceitos de liderança. Pessoas capazes de fazer palestras, ou mesmo vender cursos sobre o tema. Mas, quando avaliamos suas atitudes, a prática das várias competências necessárias para a liderança legítima muitas vezes não condizia com o que elas demonstravam saber.

Essa discrepância entre o conhecimento teórico e a prática é uma prova incontestável de que, para ser um líder legítimo, há algo fundamental que vai além das práticas aprendidas e treinadas: os valores e o caráter. Esses valores, como respeito, empatia e educação, são a base sobre a qual se constrói a verdadeira liderança. Um líder legítimo vive de acordo com princípios sólidos e edificantes que orientam suas decisões e ações.

Quanto ao caráter, recorro ao escritor e consultor James C. Hunter, autor do bestseller “O Monge e o Executivo”. Tive o privilégio de participar de um módulo com seis aulas ministradas por Hunter durante minha especialização em Psicologia Organizacional, e ele destacou o caráter como a essência dos verdadeiros líderes.

Caráter é sobre maturidade moral. É a batalha entre o que você quer fazer e o que deve fazer. São as escolhas que moldam quem somos. Todos os dias fazemos escolhas de caráter: ser paciente ou impaciente, gentil ou indelicado, franco ou omisso. São os "hábitos do coração" que desenvolvemos ao longo da vida.

O caráter está sempre à prova. Ao contrário dos animais, que agem por instinto, nós escolhemos no que nos tornamos. A boa notícia é que, a cada dia, temos a oportunidade de melhorar. Ou de piorar. São escolhas.

Aqui está a resposta para uma questão persistente: ditadores que aterrorizaram ou ainda aterrorizam a humanidade, podem ser considerados líderes? Hunter nos lembra que, apesar de sua inteligência e poder, sem caráter, essas figuras não são líderes legítimos.

Um líder legítimo aprende a "apertar o pause" antes de reagir, evitando agir impulsivamente. Ele responde de acordo com seus valores e faz as escolhas certas, mesmo quando isso não lhe agrada.

“Se uma escolha não lhe custa algo, então não é um ato de caráter. Por isso, a liderança é, essencialmente, o caráter em ação.”

James C. Hunter

Ao observar a reação negativa das pessoas nos comentários daquela entrevista, lembro que a máxima de Abraham Lincoln se aplica perfeitamente à liderança: "Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo."

Reflexões

Eu gostaria de convidar você a refletir:

- Como você avalia se os líderes da sua organização estão verdadeiramente alinhados com os valores e princípios fundamentais para o sucesso do negócio?

- Como você incentiva os líderes a refletirem sobre como suas práticas estão alinhadas com a missão e os valores da empresa?

- Que práticas você adota para assegurar que os líderes mantenham um caráter consistente que fortaleça um ambiente de trabalho positivo e ético?

- Quais são os indicadores utilizados para avaliar se os líderes estão contribuindo para uma cultura que transmita integridade e consideração?

Que suas escolhas sejam inspiradoras!

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Publicado originalmente no perfil do LinkedIn de Flávio Xavier em agosto de 2024

créditos das 2 imagens: Images by Freepik